Trabalho remoto, será para mim?

Muito se tem falado sobre o trabalho remoto. A realidade parece mostrar-nos, que o teletrabalho veio para ficar. Mas não devemos ficar presos à ideia de que o trabalho remoto foi só uma forma provisória de resolver um problema do momento. A pandemia no início do ano de 2020, gerou regras governamentais que nos obrigaram alterações. Houve uma rápida necessidade de adotar instrumentos e metodologias para trabalhar a partir de casa. E isto abriu uma janela, que dificilmente se voltará a fechar. Compreenda que o trabalho remoto encerra em si, uma modernidade que é inegável, e um conjunto de vantagens que tanto funcionários, como entidades empregadoras irão querer aproveitar.

Nunca é demais repetir que aquilo que vivemos durante o período de pandemia, (mais concretamente o período de lockdown) , com o encerramento de escolas e de muitos outros estabelecimentos, não é verdadeiramente teletrabalho.
Estarmos em casa, com as crianças, e sem que ninguém pudesse ter acesso à sua realidade habitual, foi uma mudança muito repentina. Mais do que isso, foi uma mudança sem plano. Além do mais, foi também emocionalmente desgastante para muita gente. E por esses motivos, não foi “verdadeiro” teletrabalho.

Na maioria das vezes que alguém me diz que não gostou da sua experiência de teletrabalho, pergunto sempre : quais as coisas de que gostou menos?

Frequentemente, os eventos referidos são situações específicas que têm menos a ver com o teletrabalho e mais a ver com o lockdown. “Teletrabalho é muito bonito mas ter o marido o cão e os filhos , todos em casa… foi um caos. Às vezes nem sequer tínhamos computadores suficientes para todos! Era gente por toda a casa, uns na cozinha e outros na sala, outros no quarto. E entre reuniões e refeições, foi um verdadeiro caos”.

Eu próprio quando oiço esta descrição, consigo sentir-me solidário e penso: “Sem dúvida… que inferno!” Podemos viver assim umas semanas ou até uns meses, mas ninguém quer viver uma vida organizada desta forma! Sem dúvida que concordo. Como é que podemos então fazer algo diferente? Porque a verdade é que a maioria de nós estaria muito mais confortável a fazer a sua vida usual. Seria fácil ir para o escritório onde sabemos que vamos ter as condições do costume. Mas haverá outra forma de fazer isto?

A verdade é que, se analisarmos cada uma destas coisas, todas elas estão relacionadas com uma situação específica que não deriva do teletrabalho. Ou pelo menos, do tipo de teletrabalho de que estou a falar. O trabalho remoto não tem que ser isto.

O trabalho remoto deve ser algo pensado. Planeado. Estudado por empresas e por funcionários, para que seja otimizado e funcione para ambos os lados. Só criando estas dinâmicas poderão trabalhar em conjunto para chegar ao ponto ótimo.

Em primeiro lugar, vamos tirar da frente esta equação das crianças em casa. Claro que podemos optar por ter os nossos filhos em regime de Home Schooling. Mas trabalhar remotamente não implica que as nossas crianças tenham que estar em casa. Poderão perfeitamente manter-se no seu regime normal e frequentar as aulas no estabelecimento escolar.

Depois… vamos falar de condições: trabalhar na mesa da cozinha, com uma cadeira desconfortável, e uma luz pouco adequada, também não é trabalho remoto. Uma coisa é adaptarmos um espaço para trabalhar durante umas semanas. Porque eventualmente não tivemos oportunidade de preparar nada. Outra coisa, é tomarmos a decisão de que vamos fazer trabalho remoto e por isso vamos analisar o que precisa de ser feito para preparar esse caminho. Isto, exige preparar na nossa casa, um espaço adequado, onde possamos ter uma cadeira ergonomicamente saudável. Um cantinho com um ambiente propício a podermos concentrar-nos no que temos para fazer.

Existem uma série de passos que devem ser dados para que possamos fazer trabalho remoto com verdadeira consequência. E esses passos e essa reflexão necessária, foi o que tentámos criar no livro Teletrabalho – Princípios e Ferramentas para o trabalho remoto. Mas em primeiro lugar… para o fazermos, existe uma pergunta que devemos colocar antes:

O Trabalho Remoto é para mim?

Criei uma pequena ferramenta para ajudar a perceber se o seu perfil encaixa ou não com trabalho remoto.

Use este método para tomar a decisão se quer ou não experimentar trabalho remoto. É simples, e não exige nenhum conhecimento técnico. Pode até usar este método para tomar outras decisões na sua vida.
Preparado?

Faça a sua lista

Pegue numa folha de papel em branco e crie quatro colunas. Na primeira coluna diga o nome de coisas que fazia e pode continuar a fazer. Numa segunda coluna, escreva coisas que não podia fazer e continua sem poder fazer. Estas duas representam tudo o que se mantém e é importante registar para que isso fique claro para si. Na terceira coluna, escreva coisas que podia fazer, e deixou de poder fazer. Finalmente, na quarta coluna escreva coisas que não podia fazer e passou a poder fazer.

As primeiras duas colunas, ajudarão a tomar uma consciência sobre o que é o negócio normal. Quais são as coisas que vão manter-se e que ajudarão a ganhar perspetiva para as restantes duas colunas . A terceira coluna, sobre aquilo que podia fazer e deixa de poder fazer em teletrabalho, é a coluna onde deve escrever por cima coisas a libertar. São coisas que você deve pensar se está disponível para libertar ou se são coisas que até gostaria mesmo de libertar. Para fazer trabalho remoto, deverá estar tranquilo com a ideia de que as coisas dessa coluna, não são assim tão relevantes para si. Na quarta coluna, pode escrever algo como coisas a abraçar. Estas são as coisas que poderão começar começar a fazer parte da sua vida.

Refletir

Depois de preencher estas quatro colunas, olhe com calma para as duas últimas e faça marcações naquilo que está confortável em deixar para trás. E aquilo que lhe custa mais deixar para trás. Contraste o mesmo pensamento, ao analisar a coluna daquilo que pode introduzir na sua vida. Tanto as coisas que poderá gostar, como aquelas que poderão ser mais difíceis para si. Esta folha será um instrumento muito pragmático e que lhe permitirá quantificar o que tem a ganhar e o que tem a perder se decidir evoluir para um cenário de teletrabalho. Acima de tudo analise com calma. Dê tempo si próprio para se adaptar às ideias. Permita-se sonhar e coloque-se no lugar de alguém que já está em teletrabalho, a viver a rotina que planeia nesta folha.

Tire peso à sua decisão

No final disto, tire peso à sua decisão. Considere que até pode ser algo que decide experimentar. As decisões não são necessariamente irreversíveis. Pode sempre que pode voltar atrás para algo mais tradicional. Não tenha medo de tomar uma decisão. Experimente! Principalmente, se lhe for dado a oportunidade de experimentar durante um período de tempo. Afinal de contas, a vida é sobre isso.

Leia mais sobre trabalho remoto no meu livro TELETRABALHO – ferramentas e princípios para trabalho remoto

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